Um dos mais extensos testemunhos epistolares de que se tem notícia no país mostra toda uma trajetória de vida, da fase inicial dos sonhos e das utopias juvenis ao desencanto da velhice, passando pela maturidade das lutas, conquistas e projetos realizados.
As cartas começam quando ambos ainda eram estudantes na Faculdade de Direito de São Paulo, traçando um painel dos costumes e mentalidade que atravessam a chamada República Velha e terminam durante o governo Dutra, em 1948.
As linhas remetidas do Vale do Paraíba, do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Taubaté, de Santos e até de Nova York, onde Lobato trabalhou de 1927 a 1930 como adido comercial no consulado brasileiro, ecoam uma inquestionável paixão pela literatura, além de registrarem reflexões sobre os principais acontecimentos do período.
Natural de Três Corações (MG), autor de contos e romances, Godofredo Rangel não alcançou a celebridade do companheiro, mas a ele serviu de contraponto e apoio, incentivando-o a escrever e opinando sobre seus textos.
Se a correspondência versa sobre assuntos variados, de ambições profissionais a debates políticos e problemas socioeconômicos, o tema central é a literatura. Consciente do seu valor como fonte de memória histórica, em 1943, após alguma insistência, Rangel convence o companheiro a publicá-las. Destrocam o conjunto de cartas que Lobato organiza e envia a Edgard Cavalheiro, responsável por transformá-las em livro, lançada no ano seguinte pela Companhia Editora Nacional. Agora, trazendo de volta o valioso painel da época, a presente edição vem enriquecida de índice onomástico.