A Guerra no Ar, publicado pela primeira vez em 1908 numa versão serializada na imprensa e depois reescrito para ser lançado em livro, projeta uma novidade tecnológica, a máquina voadora, em seu uso bélico. Escrito num período em que pipocavam pelo mundo experimentos com balões, dirigíveis e aparatos mais pesados que o ar, mas ninguém ainda havia feito um voo de longa distância, o romance vai além e acompanha a trajetória de um humilde mecânico de bicicletas – chamado Bertie, apelido familiar do próprio escritor – que acidentalmente se vê participando de uma guerra mundial catastrófica e, afinal, sem vencedores. Na certeira previsão de Wells, os aviões trariam uma transformação radical nas guerras: em vez de conflitos circunscritos a frentes de batalha, levariam a ataques ampliados para grandes áreas, muito mais letais e ameaçadores para as populações civis.
Herbert George Wells (1866-1946) nasceu numa família pobre em Bromley, cidade do interior da Inglaterra. O máximo que sua mãe esperava para ele era uma carreira de tapeceiro. A curiosidade e o autodidatismo o levaram a receber uma bolsa para estudos universitários. Tornou-se escritor, biólogo e professor. Publicou dezenas de títulos, entre contos, romances, ensaios e artigos sobre política, religião e ciência. Tinha uma visão de mundo clara, que o levou a abraçar o socialismo, o darwinismo, o pacifismo e o anticlericalismo – ideias que o encaminharam a um ativismo para a vida inteira. Wells representa uma linhagem britânica futurista e satírica que remonta a Jonathan Swift e se estende para George Orwell, Aldous Huxley e Anthony Burgess. Conviveu intimamente com grandes nomes de seu tempo, como o dramaturgo George Bernard Shaw e o biólogo Thomas Huxley, avô de Aldous. Era dono de uma prosa cristalina, sempre orientada para o prazer da leitura. A face que mais prezava, no entanto, era de visionário, tanto que escolheu como epitáfio a frase: "Eu avisei, tolos malditos".