Não era só o aspecto sombrio que a distinguia — janelas empoeiradas, cortinas sempre cerradas, e a porta principal de madeira antiga, que parecia assoviar baixinho com o vento.
Havia algo mais profundo ali, algo que Lucas sentia em seu peito sempre que olhava por muito tempo. Era um peso gelado, como se a casa estivesse esperando por ele, apenas por ele.
Numa noite onde a lua parecia hesitar, Lucas decidiu cruzar o pequeno jardim de grama morta que o separava da casa.
A cada passo, o ar se tornava mais denso, carregado com uma espécie de eletricidade palpável.
Ao tocar a maçaneta, um calafrio percorreu-lhe a espinha. A madeira estava fria, úmida, e parecia latejar embaixo de sua mão, como se fosse feita de algo vivo, de algo que respirava.
Assim que a porta se abriu com um rangido agudo, Lucas sentiu o cheiro do mofo misturado a algo metálico e perturbador, como se a própria casa estivesse exalando o odor do tempo e dos segredos que ali repousavam.
O hall de entrada era pequeno, mas a escuridão parecia infinita. Havia um corredor que se alongava à sua frente, mais longo do que seria possível, estendendo-se como um labirinto de sombras e segredos.
Lucas percebeu, com um aperto no peito, que a casa parecia se expandir de maneira surreal — era maior por dentro do que poderia ser de fato.
Passo após passo, ele avançava pelo corredor, tentando manter a respiração controlada, mas sentia como se o ar fosse escapando-lhe aos poucos.
O silêncio era total, esmagador, mas vez ou outra ele percebia um eco distante, um som abafado que mais parecia um choro, um lamento persistente vindo de algum lugar profundo.
Os quadros nas paredes — com retratos de rostos inexpressivos, olhar fixo e vazio — pareciam segui-lo. Ele desviava o olhar, mas sentia o peso daqueles olhos frios, observando cada movimento.
Ao chegar ao final do corredor, Lucas encontrou uma porta entreaberta, revelando um cômodo iluminado apenas por um abajur, tremulando como uma chama fraca.
Dentro, pilhas de cadernos estavam amontoadas em prateleiras e mesas, todos com as páginas cheias de anotações. Ele começou a folhear um dos cadernos, os dedos tremendo, mas não conseguia entender as palavras rabiscadas.
Eram fragmentos de frases, como um delírio registrado apressadamente, mas uma coisa ficou clara: algo ou alguém estava sendo monitorado. Talvez ele mesmo?
Uma batida forte e súbita soou atrás de Lucas, congelando-o no lugar. Ao se virar, viu uma silhueta imensa, parada à entrada do cômodo, ocultando toda a saída de luz. O vizinho.
Os olhos do homem brilhavam numa intensidade fria e ameaçadora, quase como se ardessem em ódio reprimido. Por um momento, Lucas ficou imóvel, sentindo o coração bater tão forte que parecia querer romper-lhe o peito.
Mas o vizinho não se moveu, nem disse uma palavra. Apenas ficou ali, observando, como se esperasse que Lucas compreendesse algo, que percebesse a extensão do que havia descoberto e o que ainda estava por vir.
Quando Lucas finalmente recuou, tentando se afastar sem fazer barulho, ele percebeu que o homem não estava sozinho.
Ao fundo, figuras se moviam nas sombras, figuras que pareciam mais espectros do que pessoas, todos presos ali dentro, perdidos em seus próprios terrores.
Alephy Brow, um renomado autor de terror, é conhecido por sua capacidade de entrelaçar histórias sombrias com profundas reflexões psicológicas.
Alephy atualizou esse pseudônimo para separar suas obras de ficção de sua carreira como escritor de não-ficção.