Um bem haja aos viajantes! Estes dois viajam, desta vez, pela Península. Correm-se cortinas que dão para outros tempos, mundos, cenários que sentimos cruzados ao ler este livro. Livro-diário, honesto e generoso com narradores de discurso que flui descontraído e bem humorado. O leitor sente-se convidado a ir com eles por aí. É brilhante, um livro-diário-guia prático! Super útil para os que seguem esta rota (ou outras). Oferecem-se informações valiosas para quem vai realizar uma viagem ao estilo freeway e com um orçamento reduzido, desde a preparação ao decorrer, a todas as questões práticas é dada resposta clara.
As dicas são turísticas sem serem “de pacote” porque se valoriza o momento, a paisagem, o lugar ideal, o sublime; o que é de todos e de acesso livre. Há paixões, eles são, por exemplo, apaixonados pela natureza que tanto respeitam e celebram. Têm sede de ver, descobrir, viver. A aventura é aqui e agora! A missão: desfrutar. Ah, e o crepúsculo! É emocionante, a certa altura ela maldiz o facto de quase perderem um pôr-do-sol! Ele preocupa-se em registar porque a vontade é que nunca acabe e que perdure, resultado: um deslumbrante registo fotográfico. Trata-se mesmo de uma experiência deliciosa em termos visuais. A apresentação do ebook é cuidada, simples e apelativa; muito interessante como documento artístico.
Atravessam-se florestas, entra-se no mar, bosques, segue-se pelas autoestradas e pelas estradas nacionais. Entra-se em mercadonas, bodegas, centros comerciais. Sai-se em mercados de rua, pára-se em esplanadas, evitam-se as multidões. Manipulam-se alguns aparatos, objectos tecnológicos, sacos-cama e colchões insufláveis. Palmilham-se caminhos sagrados e profanos em calles dionisíacas, o skate, as mãos e os corações dados. A Allambra, touros, árabes, ingleses, cabras montesas e macacos. Fadas, Airbnb, Hobbits, dialectos raros, grutas, gatos gigantes, não consigo pensar em imagens mais mágicas, muitas delas sendo reais - é o que aqui se encontra. E depois vêm as contrariedades, acontecem em todo o lado, a peripécia uma pitada de phatos, damos por nós a torcer muito por eles, e, quando a leitura é suspensa, a querer voltar ao livro e àqueles lugares.
Sim, são tesouros e o céu estrelado quase sempre como pano de fundo quando à noite arranjam o conforto possível dos ninhos desmontáveis, eles lá sabem, montam o ninho e depois confidenciam os seus segredos, um ao outro, um do outro. E quase os ouvimos sussurrar e procurar posição na carrinha. Pois, olhos e alma cheios, corpos cansados. Somos por ela algumas vezes lembrados: encher os olhos, a alma e o coração. É isso que se guarda, que se leva, e depois há quem dê aos outros para ver, dar só uma espreitadela, dar uso até. À medida que se encaminham para sul, as cores mudam: verde, cinza, ocre, laranja. Ah, bela caminhada! É grandioso, o leitor sente-se inspirado e com vontade de se tornar também viajante. Muita gratidão por este gesto de partilha!
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