Erasmo dirige sua sátira contra o orgulho, a vaidade e a hipocrisia de todos os estratos da sociedade, desde os camponeses até os nobres. Ele argumenta que a loucura, em várias formas, é essencial para a felicidade humana, sugerindo que sem ela, a vida seria insuportavelmente séria e depressiva. Uma das partes mais controversas do "Elogio da Loucura" é a crítica ao clero e à Igreja Católica. Erasmo ataca a avareza, o abuso de poder, e a ignorância de muitos clérigos, destacando a necessidade de uma reforma interna da Igreja, baseada no retorno aos valores e ensinamentos originais de Cristo. Erasmo explora a ideia de que há uma espécie de "loucura santa" ou "loucura de Cristo" que é superior à sabedoria mundana. Ele sugere que a verdadeira sabedoria pode parecer loucura aos olhos do mundo, uma ideia que ressoa com a filosofia paulina do Novo Testamento.
O "Elogio da Loucura" foi imediatamente popular, sendo traduzido para várias línguas e impresso em múltiplas edições. Sua crítica à Igreja foi tanto um ponto de celebração para os reformadores como um motivo de controvérsia que colocou Erasmo em uma posição delicada entre a crítica e a lealdade à Igreja Católica. O livro também foi influente na cultura literária e filosófica, sendo visto como uma das obras fundadoras da sátira moderna e do humanismo renascentista. Sua habilidade em combinar humor com uma crítica social e teológica fez do "Elogio da Loucura" um clássico atemporal.
Erasmo de Rotterdam, nascido com o nome Desiderius Erasmus Roterodamus, nasceu entre 1466 e 1469 (a data precisa é incerta) em Rotterdam, nos Países Baixos, que na época pertencia aos Países Baixos de Habsburgo. Ele era filho de Gerard, um padre que teve um relacionamento com Margaretha, uma mulher que trabalhava em uma casa de banhos. Após a morte de ambos os pais devido à peste, Erasmo e seu irmão foram enviados para um internato. Em 1487, ele entrou para um mosteiro agostiniano em Stein, próximo a Gouda, onde tomou votos, embora nunca tenha se sentido verdadeiramente vocacionado para a vida monástica.
Erasmo estudou teologia e filosofia na Universidade de Paris, uma instituição conhecida por seu rigor intelectual mas também por seu ambiente pouco hospitaleiro para os não franceses. Aqui, ele se expôs aos pensamentos de filósofos como Santo Agostinho e Tomás de Aquino, mas também começou a questionar os métodos pedagógicos e teológicos tradicionais. Após Paris, Erasmo viajou extensivamente pela Europa, estudando em Turín, onde se familiarizou mais com o humanismo italiano, e Cambridge, onde se aproximou de figuras influentes do humanismo inglês como John Colet, que incentivou o estudo dos textos bíblicos em suas línguas originais.