Com introdução de António Araújo e tradução de Madalena Caramona.
«O Homem reza ao Criador, e pensa que Ele o ouve. Não é uma ideia bizarra?»
Exilado do Céu por escarnecer da obra divina, Satanás decide visitar a Terra para observar a mais recente experiência do Criador: a Humanidade. O que aqui encontra é motivo de tamanha incredulidade, que decide escrever aos arcanjos Miguel e Gabriel, narrando com estranheza e sarcasmo as contradições que orientam a relação entre Deus, injusto e cruel, e os humanos, que lhe prestam adoração irracional. Em tom mordaz e irónico, as missivas denunciam as práticas religiosas do Homem, vazias e fúteis, e os defeitos de um deus que criou o Inferno para negar às suas criaturas o derradeiro alívio das provações a que as submete - a morte.
Em Cartas da Terra, publicadas postumamente, Mark Twain revela um pessimismo e desencanto característicos das suas obras tardias, dando a conhecer outra faceta de um dos autores mais profícuos do século XIX.
Mark Twain, pseudónimo de Samuel Langhorn Clemens, nasceu na Florida, em 1835. Aos quatro anos, a sua família mudou-se para Hannibal, uma pequena cidade à beira do Mississípi. Quinze anos depois, após a morte de seu pai, abandonou a escola e começou a trabalhar como tipógrafo e assistente editorial. Em 1856, tornou-se piloto fluvial, começou a escrever textos de humor e encontrou o pseudónimo pelo qual ficou conhecido, «Mark Twain». Mark Twain foi um aventureiro nato e a sua própria vida serviu de inspiração para a sua obra. Considerado o pai da literatura americana, é, segundo William Faulkner, «o primeiro escritor verdadeiramente americano, e todos nós apenas os seus herdeiros». Outro grande escritor, Ernest Hemingway, elogiou o autor e referiu mesmo que «toda a literatura moderna americana vem do livro de Mark Twain As Aventuras de Huckleberry Finn. Toda a literatura americana vem daí. Nada foi feito antes. Nada tão bom foi feito depois.»