O Duplo foi publicado em 1846, poucos meses depois de Gente Pobre, primeiro romance de Dostoiévski, então com 24 anos. Muitas das inquietações do autor estão já presentes neste texto: uma história de um funcionário público obcecado pela existência de um colega, réplica de si próprio, que lhe usurpa a identidade, acabando por levá-lo à insanidade mental e à rutura com a sociedade. A afirmação da liberdade individual contra instituições e normas existentes é precisamente o tema central do livro, ainda que sobressaia a compaixão pela condição dos humilhados, outra recorrência na obra do autor. Com uma riqueza de recursos estilísticos admirável - comparada, por Nabokov, à de James Joyce - este é um romance intensamente criativo, que rompe com as convenções literárias.