"Há um fenómeno moral, muitas vezes repetido, e todavia inexplicável: é a esquivança desamorosa de mãe a um filho excluído da ternura com que estremece os outros, filhos todos do mesmo abençoado amor e do mesmo pai, que ela, em todo o tempo, amara com igual veemência. Tristíssima verdade, exemplificada como o principal dos absurdos e lamentáveis enigmas da condição humana! Mistério é este vedado às dilucidações filosóficas; e, portanto, mais defeso ainda às superficiais averiguações dum romancista, que, muito pela rama apenas e imperfeitamente, pode desenhar o exterior dos factos, abstendo-se de esmerilhar causas incógnitas ao comum dos homens.
Exemplo desta aberração – se devemos chamar aberrações às deformidades morais que não dependem da vontade humana – era uma nobilíssima fidalga, que, em 1699, residia no seu palácio da rua larga da Bemposta, em Lisboa."