Neste manifesto para uma plateia interdisciplinar, a economista e historiadora Deirdre McCloskey coloca em xeque o modo como a economia vem produzindo dados e gerando conhecimento nas Últimas dÃĐcadas. Com seu tom provocador, perpassado por ironias e alfinetadas, McCloskey parte do princÃpio de que as pesquisas econÃīmicas recentes foram incapazes de produzir uma "investigaçÃĢo inteligente" porque esquecem de olhar ou esquecem de pensar o mundo. Na confusÃĢo entre teoremas qualitativos e significÃĒncia estatÃstica, em meio a um binarismo superficial, o que a economia teria perdido ÃĐ justamente o vÃnculo com a realidade â isto ÃĐ, o fato de que o mundo dos nÚmeros, dos conceitos e dos planos econÃīmicos, da taxa de juros, da inflaçÃĢo, do Bolsa FamÃlia ou da reforma da PrevidÊncia, impacta a vida de cada um de nÃģs. Essa discussÃĢo sobre os limites da ciÊncia econÃīmica, no entanto, nÃĢo se restringe a especialistas ou a esclarecidos. A linguagem de McCloskey ÃĐ clara, e os exemplos sÃĢo tomados do cotidiano, de modo que o leitor â qualquer que seja seu universo â poderÃĄ se divertir, se irritar e certamente refletir com as colocaçÃĩes dessa grande intelectual que se define como "uma mulher do meio-oeste que jÃĄ foi um homem, pÃģs-moderna, amante da literatura e da estatÃstica, defensora do livre mercado, uma progressista episcopal de Boston". Com notas do economista Luciano Sobral, que situam o leitor na constelaçÃĢo de economistas e suas teorias, o livro condensa alguns argumentos fundamentais para compreender os limites de um modelo de pensamento que vem sendo difundido hÃĄ mais de meio sÃĐculo, notadamente pela Escola de Chicago, cujos professores e ex-alunos jÃĄ somam mais de 29 PrÊmios Nobel de Economia. Sem negar a importÃĒncia da ciÊncia econÃīmica clÃĄssica ou do pensamento liberal dos economistas britÃĒnicos, como Adam Smith, McCloskey tenta levar a discussÃĢo a um outro patamar, para alÃĐm de posiçÃĩes polÃticas enrijecidas â afinal, como ela diz, hÃĄ muito trabalho a ser refeito.