Na grande arca de pensamentos encontrados em seus escritos, a teoria schopenhaueriana do sonho constitui um marco na história da filosofia, por ter modificado radicalmente a maneira de considerar a elaboração onírica. Até ele, os filósofos da tradição europeia encaravam o sonho de maneira desfavorável, como um estado ilusório e quimérico, oposto à clareza, ordenação e "normalidade" da vida desperta. Inspirando-se principalmente na literatura, Schopenhauer mostra, ao contrário, que o sonho também tem lógica e coerência, que não é uma interrupção anômala da vigília, mas um estado que apresenta profunda continuidade com ela. A vida se assemelha a um livro lido em sequência; o sonho é o mesmo livro, que se abre, no entanto, sem querer, do qual a cada noite é dado conhecer aleatoriamente uma das páginas.
Ao longo dos anos, Schopenhauer foi amadurecendo mais e mais sua meditação sobre a natureza do mundo onírico. Ele soube combinar magistralmente uma explicação teatral do sonho, encontrada em Addison, Lichtenberg e Jean Paul, com uma compreensão muito profunda da fisiologia humana. O sonho não reencena apenas o que ocorre durante o dia. Em muitas ocasiões, ele revela o que o sonhador é, mostrando-lhe o seu caráter mais profundo e como esse caráter está ligado inexoravelmente à conduta geral de sua vida, ao seu destino. Os textos reunidos neste volume procuram reconstituir essa "metafísica onírica", que provavelmente não fica atrás da metafísica da morte e da metafísica do amor, que contribuíram para a ampla difusão de sua filosofia. Essa sua metafísica do sonho foi importante para a descoberta freudiana da interpretação dos sonhos e fundamental para que Borges chegasse a seu idealismo fantástico.
Arthur Schopenhauer (Danzig, 22 de fevereiro de 1788 – Frankfurt, 21 de setembro de 1860) foi um filósofo alemão do século XIX. A partir do idealismo transcendental de Immanuel Kant, Schopenhauer desenvolveu um sistema metafísico ateu e ético que tem sido descrito como uma manifestação exemplar de pessimismo filosófico. Schopenhauer foi o filósofo que introduziu o pensamento indiano e alguns dos conceitos budistas na metafísica alemã. Foi fortemente influenciado pela leitura dos Upanishads, que foram traduzidas pela primeira vez para o latim por Abraham Hyacinthe Anquetil-Duperron, no início do século XIX.
Misantropo, pessimista, solitário, individualista e crítico ferrenho da sociedade, Schopenhauer considerava o amor apenas como vontade cega e irracional que todos os seres têm de se reproduzir, dando assim continuidade à vida e, por conseguinte, ao sofrimento. A sensação de felicidade que o amor traz é apenas o interrompimento temporário do querer, a fuga de uma dor imposta pela vontade. Para Schopenhauer, somente o sofrimento é positivo, pois se faz sentir com facilidade, enquanto aquilo ao qual chamamos felicidade é negativo, pois é a mera interrupção momentânea da dor ou tédio, sendo estes últimos a condição inerente à existência. Considerava esse impulso de reprodução, esse "gênio da espécie", tão forte como o medo da morte, daí que muitos amantes arriscam a vida e a perdem obedecendo a este desejo.