Em 1629, José Antonio González de Salas publicou uma edição do Satyricon que incluía passagens de ligação em latim que ele alegou ter tirado de uma edição anterior de Paris, mas esta edição nunca existiu. Acredita-se hoje que ele as inventou. Depois, em outubro de 1690, François Nodot, escritor francês e soldado mercenário, anunciou na academia francesa a descoberta de um manuscrito que conteria partes de Satyricon. Este conteúdo havia sido entregue a um certo Du Pin, oficial francês que esteve presente no saque de Belgrado em 1688 e uma cópia enviada a Nodot. História bem suspeita, mas que na época foi acreditada e os suplementos foram considerados genuínos. Uma edição então mais completa de Satyricon foi publicada em 1693. Esta edição foi desacreditada em seguida por Pieter Burmann, o Velho — dedicado estudioso das línguas clássicas e particularmente hábil na escrita na língua latina —, que considerou o conteúdo “espúrio”. Burmann, ele próprio, publicou uma edição latina em 1709 sem este conteúdo.
No entanto, a versão com os enxertos de Nodot e Salas foram impressas e reimpressas em outras línguas e é esta versão que se espalhou pelo mundo moderno. É desta versão que fizemos a tradução para o português. Também é esta versão que a editora Record utilizou em sua publicação de 1985. Na versão da Record, o tradutor, Paulo Leminski, um poeta brasileiro renomado, preferiu reescrever as poesias praticamente por inteiro. Em duas partes, ainda menosprezou a poesia do personagem, pois, pelo que o narrador da história diz, este poeta seria de menor expressão. Diz na nota em que retira da versão vários versos o seguinte: “No original, este poema, muito longo, é uma síntese empolada e tediosa da guerra de Tróia, conforme a Ilíada e a Odisséia, que os antigos sabiam de cor. Damos apenas os primeiros versos” (pág.115). Em outro trecho cortado, ele diz como justificativa: “Este longo e enfadonho poema do ridículo poeta foi abreviado, para alívio de Encolpo, Giton (sic) e todos nós” (pág.151).
Na nossa edição, os poemas foram mantidos em sua essência literal, em versos brancos, e apenas inseridas as referências ao que o autor alude.
Petrônio (em latim, Petronius) foi um escritor romano de prosa e verso da literatura latina, satirista e que tem como obra que chegou ao nosso tempo Satyricon. Na verdade, não existem provas seguras acerca da identidade de Petrônio, mas acredita-se que se trate de Tito Petrônio Árbitro (Titus Petronius Arbiter), distinto frequentador da corte do imperador Nero. Seu prenome também aparece como sendo Gaius em algumas fontes. Provavelmente era filho de Públio Petrônio, cônsul sufecto em 19 e governador da Síria entre 37 e 42. Nascido de uma família aristocrática e abastada, ocupa os cargos de governador e depois de cônsul da Bitínia, na atual Turquia. Depois ocupou o cargo de conselheiro de Nero, sendo nomeado arbiter elegantiae (árbitro da elegância), em 63. Dois anos mais tarde, acusado de participar na conspiração contra o imperador e caindo em desfavor, acabou com sua estranha vida, uma mistura de atividade e de libertinagem, no ano de 66 d.C., cometendo um lento e relaxado suicídio, abrindo e fechando as veias, enquanto discursava sobre temas joviais, mandando para Nero um documento no qual detalhava seus abomináveis passatempos, sendo que destruiu os demais documentos que pudessem cair nas mãos de Nero.