Ao traçar a personagem de Quincas Borba como um filósofo, Machado de Assis, não sem a ironia que dá o tom de seus escritos, traz para a literatura uma elaboração literário-filosófica: "Desde que Humanitas, segundo minha doutrina, é o princípio da vida e reside em toda parte, existe no cão, e este pode assim receber um nome de gente, seja cristão ou muçulmano...". Brincando e ironizando a filosofia do "humanismo", o texto machadiano adentra em uma das questões mais cruciais à filosofia ocidental, "a questão da animalidade" que pontua o esforço dos filósofos da tradição filosófica metafísica em caracterizar algo como "o próprio" do humano, a partir de uma linha divisória que colocaria de um lado "o humano" e de outro "o animal": ela (a linha da animalidade) "visaria sobretudo e ainda ao uso no singular de uma noção tão geral como 'O Animal', como se todos os viventes não humanos pudessem ser reagrupados no sentido comum desse 'lugar comum'".
Ilukirjandus ja kirjandus