âHay golpes en la vida, tan fuertes... ÂĄYo no sÊ! Golpes como del odio de Dios; como si ante ellos, la resaca de todo lo sufrido se empozara en el alma... ÂĄYo no sÊ! Son pocos; pero son... Abren zanjas oscuras en el rostro mÃĄs fiero y en el lomo mÃĄs fuerte. SerÃĄn tal vez los potros de bÃĄrbaros Atilas; o los heraldos negros que nos manda la Muerte. Son las caÃdas hondas de los Cristos del alma de alguna fe adorable que el Destino blasfema. Esos golpes sangrientos son las crepitaciones de algÃēn pan que en la puerta del horno se nos quema. Y el hombre... Pobre... ÂĄpobre! Vuelve los ojos, como cuando por sobre el hombro nos llama una palmada; vuelve los ojos locos, y todo lo vivido se empoza, como charco de culpa, en la mirada. Hay golpes en la vida, tan fuertes... ÂĄYo no sÊ!â (CÊsar Vallejo) Este poema Ê de 1918, ano em que se iniciava o interstÃcio entre as guerras. A beleza deste poema Ê o fato dele falar sobre aqueles momentos da vida que nÃŖo inenarrÃĄveis, no qual o fardo que temos que carregar se torna praticamente insuportÃĄvel. O livro âMuito alÊm do meu euâ trata desses momentos. Escrito em primeira pessoa, por meio de vozes e olhares distintos, o leitor Ê levado a passear pelo tempo suavemente. Ao longo da narrativa podemos ver traços da estÊtica francesa bem como uma alusÃŖo ao clÃĄssico de Garcia, Cien aÃąos de soledad. A utilizaçÃŖo de fluxo de consciÃĒncia por meio de perÃodos curtos, dÃĄ ao texto uma cadencia e ritmo que prendem o leito. O livro pode ser caracterizado como paradoxal, nÃŖo por ser contradizer, mas sim por unir elementos opostos como tragÊdia e alegria, campo e cidade, o homem rural e o homem culto, a mulher da vida (prostituta) e a mulher casada. O que dizer dos personagens? Maria comete um crime para ser feliz e mostra que devido ao crime Ê impossÃvel atingir a felicidade. Sofia sofre um crime, e ao deixar este passado para trÃĄs, alcança a plenitude. Esta Ãēltima Ê a personagem mais complexa, completa e interessante da histÃŗria: sofre, luta, vence, sofre, morre, mas vence. Ela Ê forte e frÃĄgil, inocente e sagaz, doce e intensa. Intensidade, creio que esta Ê outra palavra que descreve o livro. As cenas sÃŖo fortes, emocionantes e impactantes. Destaco a cena do estupro e das relaçÃĩes que o primeiro chefe tinha com sua mÃŖe. Como nÃŖo tenho palavras para descrever o que essas cenas provocam, recorrei a PoÊtica de AristÃŗteles: âMuito alÊm do meu euâ provoca karthasis no sentido mais aristotÊlico possÃvel. O intervalo temporal no qual a histÃŗria se desenrola passa pela Grande Guerra, Golpe de 64 e chega aos nossos dias de crise econômica e polÃtica. O livro destaca temas como violÃĒncia contra mulher, os abusos de poder cometidos pelos policiais bem como a corrupçÃŖo desta corporaçÃŖo, a questÃŖo da ditadura militar brasileira entre outros temas de fundamental relevÃĸncia. O cunho social e a escolha do lÊxico marcam o lÃŗcus enunciativo fazendo que este livro se torne nÃŖo sÃŗ uma obra literÃĄria devido ao tratamento estÊtico mas tambÊm uma ficçÃŖo de cunho polÃtico-social, estabelecendo vÃnculo com obras pÃŗs colonialistas de Spivak e, ouso dizer, de Fanon.