Como todo jogo atrativo, este tem pelo menos dois níveis principais de “complexidade”; os quais, grosso modo, tendem a atingir de uma faixa etária mais iniciante a outra mais iniciada, e vice-versa. De maneira que tais faixas, longe de mostrarem-se excludentes, componham uma grande mescla, tendente a identificar-se com um todo ao longo da “brincadeira”. Nesse todo reside a ideia central do livro: divertir, entreter e conquistar a criança, com vistas a atrair seu interesse para a leitura e a construção de versos como instrumental de interação com os valores humanos e o mundo a sua volta. Buscando sempre fazer da leitura um convite para o jogo da construção poética, a ordem aparente dos poemas nasce com uma primeira fase, onde o brinquedo, o jogo (aprender a sentir e/ou construir a leitura de versos) utiliza-se dos brinquedos concretos da primeira infância (a bola, a boneca, a bike e mesmo o computador), como elementos de conquista da atenção e do interesse. Isso para, assim dar mote às fases da transição e das descobertas, anunciadas pela vizinha puberdade. E aqui, sempre reconstruindo-se, o jogo leitural começa a dar aos primeiros brinquedos uma outra importância; assim como às pessoas, aos bichos, aos valores morais emergentes e ao próprio sexo oposto. Para não complicar, digamos que a fase da conquista vai do poema de abertura (“A criança faz poesia”) até a página doze (“Lá na casa da vovó”), passando pela diversão e o entretenimento, sem nunca perder de vista a questão dos brinquedos-brinquedos e sua ligação com os brinquedos-palavras; o que bem se evidencia até a página 16. Ressalte-se também “Poeminha de papel” e “Brinquedo de mar” (p. 9,10); além, claro, de “O jogo das mil palavras” (3). Como exemplo da transição, temos “Pedalando” (15). Mas é “Quando o leite vira queijo” (25) talvez o grande salto para a puberdade e a adolescência, que afinal recompõem-se n’“O olhar do menino”, n’“A perna da tia” (27/28) e em tantos outros sentidos; até completar-se o descortinar do bairro, da amizade, da família, da separação, da metrópole, dos valores sociais, e, claro, do grande jogo das mil palavras.